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Tecnologia de Golpes

Posted by Márcio Gonçalves em junho 24, 2013

Golbery do Couto e Silva 12

Golbery do Couto e Silva

mourao01

Olympio Mourão Filho

As duas últimas semanas surpreenderam todo mundo. Eu, do meu lado, não posso mais ficar espantado com a falta de originalidade da direita em produzir golpes e desestabilizar governos.

Antes era tudo meio patético. Não tendo nem mesmo um discurso para ganhar o governo no voto popular, começou uma espécie de terrorismo na mídia: racionamento de energia, inflação “descontrolada”, aumento dos juros, tomate.

Aí veio o boato do fim do bolsa-família. Estranho. Tão seletivo, tão bem-espalhado, tanto tumulto. Aí tinha.

Junho chegou e o caos veio junto com ele. Manifestações pela redução das tarifas de ônibus chegaram e com elas a repressão violenta da polícia paulista. Aí, a extrema direita se juntou e começou o quebra-quebra. Em questão de dias, um forete trabalho de divulgação conseguiu juntar milhões de jovens em todos no Brasil para criar o quadro de caos e convulsão social que o “iminente” racionamento e o tomate não conseguiram. Golpe de mestre da extrema direita.

A direita e a extrema direita no Brasil perseguem o mesmo objetivo de derrubar ou desgastar governos trabalhistas, mas agem por caminhos diferentes e às vezes batem cabeça uma com a outra. No golpe de 1964, o general Golbery do Couto e Silva era o cérebro da direita no Brasil. Articulava empresários e militares através do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), trabalhando para virar a opinião pública ao seu alado, atuando em sindicatos, organizações religiosas, estudantis, femininas, empresariais  e jogando pesado no financiamento de políticos através do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). O objetivo dele era estabelecer a hegemonia do capital nas decisões de governo, com uma ênfase no aumento de facilidades para o capital estrangeiro. No mesmo golpe de 1964, o general Olympio Mourão era  o cérebro da extrema direita, por assim dizer. Foi ele que saiu na frente e deslocou suas tropas de Minas para o Rio. Ele não gostava de Golbery nem da Escola Superior de Guerra, que seguia uma linha de pensamento semelhante à de Golbery. O objetivo de Mourão? Tirar aquele monte de “comunistas safados” do governo e do país também, pro trabalho ficar bem feitinho. A ousadia de Mourão levou vários militares da extrema direita (a “linha dura”) a comporem o governo que a princípio seria só da turma do IPES. Os presidentes-ditadores Costa e Silva e Médici vieram da extrema direita.

Esta semana a história se repetiu. “Mourão” saiu na frente e o “IPES” teve que seguir. Mourão no caso foi a extrema direita que começou o seu movimento “occupy manifestações”. O IPES no caso é o Instituto Millennium, que tenta fazer a mesma coisa que seu antecessor fez, sem tanto sucesso. Quando o Millenium viu que a extrema direita ia tomar conta das ruas, pelo menos um de sues membros voltou atrás instantaneamente. Já é um clássico o “mea culpa” de Jabor, “abençoando” as manifestações depois de pedir para a polícia baixar o sarrafo. A Globo cobriu todos os eventos, com bastante ênfase na exibição de vandalismo.

O Millenium trabalhava na construção da imagem de Aécio Neves, a extrema direita aponta para Joaquim Barbosa. Para este blogueiro, a candidatura Joaquim Barbosa já estava liquidada há algumas semanas. Quebrei a cara.

O objetivo do Millenium era sangrar a imagem de Dilma até ela chegar fraca na eleição de 2014. A extrema direita quer um golpe de estado agora e, se possível, a extinção de todos os partidos.

A semana que começa amanhã promete. A esquerda quer recuperar a hegemonia do discurso das manifestações, a direita e a extrema direita podem divergir ainda mais.

O que esperar?

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Um livro vital para entender o que se passa

Posted by Márcio Gonçalves em junho 23, 2013

1964_a_conquista_do_estado1964 – A Conquista do Estado é um livro que mostra os bastidores da preparação do Golpe de 1964. Tese de doutorado do uruguaio René Dreyfuss, foi publicado em 1981 no Brasil pela Editora Vozes.

O livro mostra quem preparou o golpe e como o preparou. A primeira surpresa é que o golpe não é exclusivamente militar. Muito pelo contrário. Uma organização civil de empresários planejou e atuou em diversas frentes para que o governo Goulart fosse derrubado e substituído pelo regime que lhe interessava. A organização que capitaneou o processo se chamava Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES). Os presidentes-ditadores foram todos militares, mas a maior parte dos ministérios da ditadura era ocupado por empresários civis oriundos do IPES. O General Golbery do Couto e Silva foi o grande engenheiro do golpe, mas ele fez isso articulando através do IPES e não exclusivamente nos quarteis.

Boa parte do trabalho preparatório do golpe de 1964 era convencer a opinião pública de que o governo de João Goulart era um perigo para o Brasil e o golpe seria uma boa solução. Neste ponto, eles foram bem-sucedidos.

O tempo passa, o tempo voa, e a tecnologia de golpes continua numa boa. Boa parte do trabalho agora é o mesmo. Transformar a Dilma no inimigo público nº 1. Hoje, 23 de junho de 2013, parece que eles estão sendo bem-sucedidos também…

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