As duas últimas semanas surpreenderam todo mundo. Eu, do meu lado, não posso mais ficar espantado com a falta de originalidade da direita em produzir golpes e desestabilizar governos.
Antes era tudo meio patético. Não tendo nem mesmo um discurso para ganhar o governo no voto popular, começou uma espécie de terrorismo na mídia: racionamento de energia, inflação “descontrolada”, aumento dos juros, tomate.
Aí veio o boato do fim do bolsa-família. Estranho. Tão seletivo, tão bem-espalhado, tanto tumulto. Aí tinha.
Junho chegou e o caos veio junto com ele. Manifestações pela redução das tarifas de ônibus chegaram e com elas a repressão violenta da polícia paulista. Aí, a extrema direita se juntou e começou o quebra-quebra. Em questão de dias, um forete trabalho de divulgação conseguiu juntar milhões de jovens em todos no Brasil para criar o quadro de caos e convulsão social que o “iminente” racionamento e o tomate não conseguiram. Golpe de mestre da extrema direita.
A direita e a extrema direita no Brasil perseguem o mesmo objetivo de derrubar ou desgastar governos trabalhistas, mas agem por caminhos diferentes e às vezes batem cabeça uma com a outra. No golpe de 1964, o general Golbery do Couto e Silva era o cérebro da direita no Brasil. Articulava empresários e militares através do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), trabalhando para virar a opinião pública ao seu alado, atuando em sindicatos, organizações religiosas, estudantis, femininas, empresariais e jogando pesado no financiamento de políticos através do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD). O objetivo dele era estabelecer a hegemonia do capital nas decisões de governo, com uma ênfase no aumento de facilidades para o capital estrangeiro. No mesmo golpe de 1964, o general Olympio Mourão era o cérebro da extrema direita, por assim dizer. Foi ele que saiu na frente e deslocou suas tropas de Minas para o Rio. Ele não gostava de Golbery nem da Escola Superior de Guerra, que seguia uma linha de pensamento semelhante à de Golbery. O objetivo de Mourão? Tirar aquele monte de “comunistas safados” do governo e do país também, pro trabalho ficar bem feitinho. A ousadia de Mourão levou vários militares da extrema direita (a “linha dura”) a comporem o governo que a princípio seria só da turma do IPES. Os presidentes-ditadores Costa e Silva e Médici vieram da extrema direita.
Esta semana a história se repetiu. “Mourão” saiu na frente e o “IPES” teve que seguir. Mourão no caso foi a extrema direita que começou o seu movimento “occupy manifestações”. O IPES no caso é o Instituto Millennium, que tenta fazer a mesma coisa que seu antecessor fez, sem tanto sucesso. Quando o Millenium viu que a extrema direita ia tomar conta das ruas, pelo menos um de sues membros voltou atrás instantaneamente. Já é um clássico o “mea culpa” de Jabor, “abençoando” as manifestações depois de pedir para a polícia baixar o sarrafo. A Globo cobriu todos os eventos, com bastante ênfase na exibição de vandalismo.
O Millenium trabalhava na construção da imagem de Aécio Neves, a extrema direita aponta para Joaquim Barbosa. Para este blogueiro, a candidatura Joaquim Barbosa já estava liquidada há algumas semanas. Quebrei a cara.
O objetivo do Millenium era sangrar a imagem de Dilma até ela chegar fraca na eleição de 2014. A extrema direita quer um golpe de estado agora e, se possível, a extinção de todos os partidos.
A semana que começa amanhã promete. A esquerda quer recuperar a hegemonia do discurso das manifestações, a direita e a extrema direita podem divergir ainda mais.
O que esperar?